A vida nas comunidades da Baía de Paranaguá-PR começou a mudar quando foi inaugurada a primeira estrada de rodagem, por volta de 1950, que ligava o planalto ao litoral. Apesar de ser uma construção precária e mal asfaltada, com ela vieram os primeiros grileiros, uma incipiente especulação imobiliária e a empresa Agropastoril com seus búfalos – o que começou a ameaçar a estrutura do território. Além disso, a posse informal da terra foi uma brecha jurídica que conferia grande instabilidade às comunidades.
Anos depois, na década de 1980, em sincronia com o panorama global, grande parte do território foi transformado em Parque Nacional adquirindo legislação de uso restrito semelhante ao modelo de Yellowstone, no qual considerava os parques como áreas
protegidas pelo poder público, com objetivo estético, geológico e arqueológico que poderia servir para visitação. Na prática, o que aconteceu foi que a nova legislação sequer reconheceu a existência de comunidades dentro daquele território, proibindo então qualquer forma de manejo dos recursos naturais. Os agentes do poder fizeram valer as novas frias leis a duras penas e os caiçaras passaram a viver à marginalização de sua própria cultura.
Foi assim que esse povo que não vivia de excessos, mas nem de faltas, passou a sentir fome pela primeira vez. A brutal intervenção de agentes externos foi crucial para a desorganização do território, sendo responsável pelo êxodo de famílias para zonas periféricas de centros urbanos localizados nas margens do Parque Nacional do Superagui, como a Ilha de Valadares, em Paranaguá, e a Ilha de Almeida, em Guaraqueçaba-PR. Já as famílias que ficaram, passaram a viver em uma situação de extrema miséria – terreno que foi fértil para a expansão da Igreja Evangélica, que considera práticas tradicionais como o Fandango e a atividade de curandeiras, profanação.
[Dados geográficos] – O município de Guaraqueçaba, possui um baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,587, o que o classifica na posição 396 dos 399 municípios do Paraná (IBGE, 2010). Seu Produto Interno Bruto (PIB) per capita de R$14.552,14 fica na 396ª colocação do estado, já sua porcentagem de esgotamento sanitário é de 57%. (IBGE, 2010).


